sábado, 23 de março de 2013

Cadarços desamarrados – Natayane Torquato


Estava sentada em minha cadeira pintando algum desenho de forma monótona a pelo menos vinte minutos enquanto encarava um relógio de ponteiro que eu sequer conseguia entender. “Como os adultos conseguem ver as horas nisso?”, pensei. Naquele exato momento desejei ser adulta pra ver quanto tempo faltava pra ir embora, pois não aguentava mais fingir interesse em um desenho.
Depois de muita espera o sinal finalmente soou e todos se levantaram para entregar o desenho. Com muito cuidado pra ninguém ver meu desenho – nunca tive habilidades com a arte, logo ele estava um desastre – entreguei o desenho e me dirigi à porta carregando minha mochila de rodinhas comigo. Neste momento reparei que meus cadarços estavam desamarrados, pensei em amarrá-los lembrando da insistência da minha mãe toda vez que me via com eles assim, porém deixei passar e cheguei mais perto da pequena escada que dava acesso ao portão de saída.
Já no topo da escada, tentei descer o primeiro degrau com o pé esquerdo, porém estava pisando no cadarço com o pé direito. Desequilibrei-me e comecei a cair da escada junto com minha mochila. Cair da escada? Isso pra mim era o de menos, já havia caído muitas vezes. O único problema é que não eu estava sozinha na escada, mais a frente estavam descendo duas meninas, que minha mochila e eu arrastamos até o chão.
Depois da queda, me levantei do chão e reparei que eu não estava com nenhum machucado, nem mesmo arranhão. Ótimo! Mas quando olhei para o lado, vi uma das meninas com o nariz ensanguentado. Comecei a pedir desculpas da melhor forma que pude, mas ela começou a berrar que eu teria que dar meu nariz a ela agora que tinha machucado o dela.
Assustada com o pensamento de ter que abrir mão do meu nariz, corri o mais rápido que pude em direção a saída. No meio do caminho, parei bruscamente e amarrei os cadarços, e jurei que depois disso nunca mais os deixaria desamarrados. Continuei correndo. Antes de cruzar o portão, desacelerei e tentei parecer calma pra minha mãe não perceber nada de errado. Saindo da escola, já tinha a avistado e me direcionei a ela. Mal tinha me aproximado e já ouvi uma exclamação:
– Você finalmente amarrou seus cadarços!

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