domingo, 31 de março de 2013

Ao menos por um dia - Derick W.


Acordar em etapas era a forma mais comum de se levantar com coragem para ir à escola. Eram 5:50h da manhã, e aquela musica que eu tanto gostava (Não pelas manhãs) do David Bowie, Heroes, tocava, e me “despertava” ... 06h, 06:10h, 06:20h, e a musica se repetia a cada “soneca” ativada por mim no celular. Só quando não tinha mais tempo, que eu levantava.
Era curioso, por que mesmo sabendo que eu ia me atrasar, isso se repetia todos os dias, a soneca, ficar sem tomar café, apressar os passos, e chegar quase a ponto de ter que pular o portão.
Tenho uma amiga, que é tão igual quanto a mim, e isso me fazia ser menos estranho do que qualquer outro. Mas, ao contrario de mim, Amanda, minha amiga, dizia que “não tinha condicionamento físico para pular o portão, ou ter que apressar passos”, Amanda dizia que seu “joelho era podre”... Por esse fato, quase sempre faltava, e eu já estava acostumado com isso, porém, fazia falta o seu abraço, e ver seu sorriso todas as manhãs.
Em um dia, quase tão curioso quanto minha incrível habilidade de insistir em sair atrasado, eu acordei cedo, tinha perdido o sono antes mesmo de o celular despertar, então, fui tomar meu café da manhã super disposto a não ter que chegar correndo na escola. Quando o relógio marcou 06:40h, sai a passos longos, tentando manter o ritmo curto, pois por vezes, esquecia que estava no horário bom, e não atrasado.
A visão do portão completamente aberto, não me vinha em minha mente há tempos... Nem como lembrança. Quando dentro da escola fui em busca de Amanda, pois na noite anterior (como muitas), tínhamos prometido que íamos fazer o impossível, e o possível para não faltar na escola. O motivo de tal promessa era por causa do final de ano, sendo assim, ultimo bimestre. Depois de rodar o pátio (não todo, pois Amanda era alta, bem alta, e então, fácil de ser encontrada), e não a vi, me sentei, coloquei meus fones (na esperança de ninguém vir conversar comigo), e abaixei a cabeça e deixei aquela musica a mesma que me despertava, bem alta. Aquela letra era perfeita, por isso tanta fascinação na mesma musica varias e varias vezes...
I, I will be king, And you, you will be Queen
Though nothing will drive them away
We can beat them, just for one Day, we can be Heroes, just for one Day”
A letra me questionava como poder ser um herói para alguém, pelo menos um dia? ...
Já haviam se passado duas aulas de matemática, e parecia que eram seis... Então, tirando o fato de que consegui chegar à escola no horário certo, o dia tinha voltado a ser carregado de tédio, fome, preguiça e aquela enorme vontade de voltar pra casa. Como de costume, eu estava com meus fones no ouvido, praticamente em outro mundo, por que a musica me leva a isso... Quando alguém, sem muito amor a vida, puxou meus fones. Aquilo me trazia um ódio enorme. Várias vezes eu me via pegando a caneta e acertando a testa do ser que fosse fazer isso... Infelizmente, ainda é crime, e mais infelizmente ainda, matar, ou ferir por tirar a paz alheia, não é justa causa. Então, em meio a isso, apenas me virei, e tentei colocar um sorrio em meu rosto quando perguntei o que estava acontecendo.
O garoto perturbador da paz não falou nada, apenas apontou para a porta, e quando olhei, eram apenas umas colegas. Pedi licença para a professora, e caminhei até a porta me questionando o que era, pois eu não tinha intimidade alguma com aquelas garotas, eram apenas conhecidas...  Quando perguntei o que era, a mais baixa e corpuda de cabelos ruivos disse que tinha acontecido algo chato, e que envolvia Amanda. Na mesma hora minhas pernas tinham amolecido, minha mente pairou em varias coisas chatas que poderiam ter acontecido, e o quão grave e chatas eram.
Então, quando ela franziu a testa e desmanchou o rosto em um ar de tristeza, contou que a avó de Amanda tinha passado muito mal essa madrugada e faleceu pela manhã. Na mesma hora, por um relance de grosseria minha, pensei “que bom que não foi nada com Amanda”, mas no mesmo instante, vi que era com Amanda sim, pois eu sabia quão apegada Amanda era com sua avó, e o quão mal ela estaria agora. 
Confirmei com a cabeça sem saber o que falar para as meninas, apenas demonstrei que entendi a noticia.
Já de volta para meu lugar, me sentei e fiquei imaginando se agüentaria ver Amanda tão mal, pois pra mim, ela era, e é, tudo que se podia ser um exemplo, ou representação de felicidade, de pessoa feliz. E neste momento encontrei a resposta pra o “Ser um herói por um dia” era isso que eu precisava ser para ela... Um herói, apenas mostrar minha amizade em conforto aquilo tudo... Ou, apenas voltar para aquele dia qualquer em que eu chegava atrasado, e saberia que foi um dia normal, um dia qualquer. 

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