domingo, 10 de agosto de 2014

Sandy Lima Barbosa - Mapa de Assentos

Nada como duas aulas de biologia para acabar com uma segunda feira. Eu entrei na sala e meu queixo caiu. Na lousa estavam dois bonecos abraçados, cobertos apenas por folhas artificiais em alguns lugares específicos. Em cima de suas cabeças estava escrito com giz amarelo: "REPRODUÇÃO HUMANA". Eu olhei para o professor que estava digitando algo no seu notebook e cantando "While Your Lips Are Still Red" do Nightwish, quando ele percebeu continuou cantando e acenou. Toda segunda eu me pergunto se ele sofre de alguma doença mental, mas pelo menos ele tem uma voz linda.                                                                                                 
 “É exatamente por isso que a escola proíbe celular. Fotos disso no jornal seria toda a prova que iríamos precisar para ir ao conselho da educação e remover biologia. '' disse minha melhor amiga Julie
“ Julie, eu podia jurar que você estava esperando essa aula o bimestre inteiro.”

“Essa aula não vai me ensinar nada que eu já não saiba.” Ela sorriu maliciosamente e em seguida fomos para nossos lugares, que eram lado a lado.
“Vocês podem não ter percebido, mas sexo não é apenas diversão, sexo é biologia. E o que é biologia?” Os olhos do professor pararam em mim. ''Rose?”
“Estudo da vida.”
“Posso chamar esse estudo de investigação?"
"Talvez...?"
"Biologia é uma investigação.Investigação precisa de prática." assenti " Rose, você está se sentando ao lado da Julie desde o começo do ano?” Eu assenti novamente "Aposto que conhecem bastante uma sobre a outra?”
"Acho que sim." olhei para Julie e fiz uma careta. Julie é loira de olhos verdes. Eu sou uma morena de olhos cinza. O professor continuou
 “... eu aposto que cada um de vocês conhecem a pessoa ao seu lado. Vocês escolheram esses assentos por uma razão, certo? Familiaridade. Que pena que os detetives evitam familiaridade. E é por isso que vamos fazer um mapa de assentos.”
Eu abri minha boca para reclamar, mas Julie chegou antes. “Mas que droga? É outubro. Tipo, quase o final do ano. Você não pode mexer nesse tipo de negócio agora.” O professor deu um sorriso diabólico.
“Eu posso mexer nesse negócio até o último dia do ano. E se a senhorita reprovar na minha matéria, o que é muito provável, estará de volta aqui no ano que vem, onde eu estarei mexendo nesse tipo de negócio novamente.” O professor Henrique deu um sorriso de deboche “Cada aluno sentado no lado esquerdo da mesa, mova-se para frente. Aqueles na fileira da frente
, incluindo você Julie, movam-se para os fundos.” Julie olhou na minha direção e disse:
''Se o Henrique acha que vou ficar lá no fundo até o final do ano, ele está enganado!" Julie falou tão baixo que foi complicado escutar. Comecei encarar a lousa quando um grosso e pesado livro de biologia foi jogado brutalmente na mesa e seu dono, o aluno novo, sentou na antiga cadeira da Julie.
Eu sorri. “Oi. Eu sou a Ro...” Seus olhos negros me cortaram, e em seguida sorriu. Seu sorriso não era amigável. Olhei pro professor quando ele disse: “Descubram o quanto puderem sobre seu colega. Quero relatórios na próxima segunda-feira.” Eu me sentei perfeitamente imóvel. O garoto ao meu lado bufou
, eu tinha sorrido, e olha como isso ajudou. Eu apoiei meu queixo no meu punho. Ótimo. Nessa aula iria tirar um zero. Eu estava encarando a lousa, quando ouvi o barulho da sua caneta. Ele estava escrevendo, e eu queria saber o que era. “O que você está escrevendo?” eu perguntei. “E ela fala português” ele disse enquanto rabiscava. Eu me inclinei o mais perto que podia, tentando ler o que ele tinha escrito, mas ele dobrou o papel ao meio, escondendo a lista. “O que você escreveu?”Ele me ignorou, então peguei uma folha de caderno. “Qual é o seu nome?”Eu perguntei, pronta para escrever. Ele me encarou. “Seu nome?”Eu repeti.
“ Mason!”ele respondeu com raiva.
“ Qual sua idade?''
“Dezoito"
"Você tem dezoito? O que você faz no seu tempo livre?” eu perguntei.
 “Sim e não tenho tempo livre.”
“Acho que essa lição vale nota, então me ajuda?”
“Ajudar em que?” ele quase gritou.
''Responder minhas perguntas''
“Eu tiro fotos, tenho uma coleção de uma menina que acredita que faz bem ser vegetariana e que quer se formar em publicidade e jornalismo” Eu o encarei por um momento, ele continuou “Mas você não se formará em nenhuma delas.”
“Eu não irei?” Eu perguntei sem pensar. Ele arrastou minha cadeira para mais perto dele.
“Embora você conseguisse passar nas duas, você julga por serem tão famosas. Julgar é sua terceira fraqueza.”
“E minha segunda?” Eu disse com bastante raiva.
"Você confia nas pessoas erradas.”
“E a primeira?” Eu exigi.
“Você mantém a vida em rédea curta.”
“O que isso quer dizer?”
“Você tem medo do que não consegue controlar.” esse cara está me assustando “...seu pijama é curto?” ele perguntou. Minha boca ameaçou cair, mas eu a segurei no lugar.
“Você está longe de ser a pessoa a quem eu contaria.”
 “Já foi a um psicólogo?”
 “Não” eu menti. A verdade era que eu tinha consulta com o Dr. Flynn desde a morte da minha mãe no ano passado.
 “Já matou alguém?”
“Ainda não, por que você não pergunta minha música favorita, como uma pessoa normal?”
“Eu posso adivinhar.”
“Duvido.”
“Deixa eu ver...'Angels' do Within Temptation, certo?” Ele disse isso como se tivesse chutado do nada.
“Errado.” Outra mentira.
“O que é isso?” Mason deu um tapinha com sua caneta no meu pulso.
“Uma marca de nascença.”
“Parece uma cicatriz. Você já tentou se matar, Rose?”
"Hein?"
“Pais casados ou divorciados?”
“Meu pai é viúvo.”
“Como sua mãe morreu?”
“Acidente de carro. Essa é meio pessoal, se não se importa.”
“Não gosta de falar do assunto?” Ele soava sério. O sinal tocou.
 “Não gosto e Mason, eu não sei nada sobre você, só seu nome” Ele se virou, tomando minha mão rabiscou algo. Eu olhei para os nove números e um endereço escrito com caneta preta e falei “O que é isso?”
 “Acho que são números e um endereço, para ser mais exato, o meu.”
 “Eu não vou ligar e não vou à sua casa! Nunca!”
 “Vai sim." e foi embora. Quando Julie me encontrou falei o que aconteceu.
"Eu gastei meu sagrado tempo falando com uma fã de American Horror Story que gosta de se cortar enquanto você simplesmente ganha o número e endereço do transferido? Não é justo!'' disse Julie chocada.

"Eu assisto essa série, qual o problema? Não, não é justo e o Mason é maluco! Preciso dizer ao Henrique que ele tem que nos trocar de volta.”
Nada contra essa série, mas só tem psicopata. O Mason é lindo, mas vai nessa. Eu podia fazer uma redação e o título seria: Mapa de Assento Leva um Tapa na Cara.”
No final, fui eu quem levou um tapa na cara. O professor recusou meu pedido para repensar o mapa de assentos. Fui pra casa e logo após o almoço, com muita relutância, decidi ligar para Maison e caso não atendesse eu contaria para o Henrique. Ele atendeu no segundo toque.
"E aí?"
"Liguei pra ver se você estava disponível hoje a tar... "
"Rose? Pensei que não ligaria nunca''
"Posso me encontrar com você ou não?"
"Encontrar?" ele deu risada
"Pra fazer a lição, idiota"
"Não posso"
''Não pode ou não quer?"
''Estou jogando Xbox e você está atrapalhando"
"Como é que é?"
"É GTA não posso parar agora!"
''Ta, seu irresponsável! Vamos fazer pelo telefone, eu tenho uma lista de per..."
                                               Ele desligou na minha cara. Encarei meu celular com descrença , então decidi ir ao maldito endereço que por pura sorte ficava 5 minutos da minha casa e meu pai nem iria ficar sabendo, já que estava no trabalho. Liguei no celular do Mason. De novo.

"Bem... É... estou na sua portaria, poderia vir aqui?"
"Já vou “
Ele estava usando uma calça vermelha e uma camisa pólo amarela
''Oi Rose”
''Oi, e muito obrigado por desligar na minha cara “
"Não há de quê!”ele deu uma risada
“Algumas rápidas perguntas e vou embora. Um sonho?"
''Te beijar"
"Nã..não foi engraçado"
"não, mas fez você gaguejar"
"Trabalha?"
''Não"
"Gosto musical?"
"Eclético"
"Religião?"
“Você disse poucas perguntas.”
“Religião?” eu perguntei mais firme.
“Religião não... culto.”
“Você pertence a um culto?”
“Sim e estou precisando de um sacrifício feminino. Eu planejava seduzi-la para que confiasse em mim primeiro, mas se você está pronta agora...” ele me encarou com um olhar assassino, o encarei de volta com pavor e quando ele viu minha reação, caiu na gargalhada.
"Menina, você está branca!" continuou rindo "Eu estava brincando!"
“Me assustou! Babaca! Você não está me impressionando.”
“Eu nem comecei.”
"Quantas vezes você repetiu o segundo?"
"Repetir o quê?"
“Você falou que tinha dezoito, certo? Já era para estar formado”
“Sim, isso é verdade. Eu nunca fui pra escola antes. Estudei em casa e perdi dois anos.”
“Isso é mentira!"
''Por que você veio esse ano?”
“Você, gostou da resposta?”
“Não.” retruquei com petulância e ele deu um passo pra frente
“Esses olhos cinzas são irresistíveis.” ele só pode estar gozando com a minha cara.
“Você parece saber exatamente o que dizer para me deixar desconfortável.”
“Você facilita.” a raiva disparou por mim.
“Você admite que está fazendo isso de propósito?”
“Isso o quê?”
“Me provocando. ”
“Diga ‘provocando’ novamente. Sua boca fica provocativa quando você faz isso. ”
“Já chega! Termine seu jogo de Playstation... "
“É Xbox...” ele me cortou com falsa timidez
"Qual a diferença? Tudo é jogo! Eu não gosto de sentar do seu lado,não gosto de ser sua parceira,não gosto do seu sorriso e também não gosto de você'' Minha mandíbula tremeu, algo que acontecia quando eu mentia.
"Estou feliz pelo Henrique nos ter colocado juntos"
“Estou trabalhando para mudar isso.” eu reagi. Mason achou que isso era tão engraçado que seus dentes apareceram em seu sorriso. Ele se inclinou na minha direção e antes que eu pudesse me afastar, ele me beijou.

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