Certamente aquela era
uma noite muito fria, enquanto nevava as janelas do orfanato escola, batiam
junto ao vento, em uma delas estava uma menina, de cabelos pretos e pele branca,
demonstrava sua infinita tristeza, que escorria pelos seus olhos. Aos nove anos
perdeu seus pais em um incêndio e deixaram de herança apenas um espelho.
Todos os dias ela
caminhava até o jardim, e levava em suas mãos o espelho, sempre relembrando
memórias de sua família, como sua mãe era carinhosa, doce e tinha um belo sorriso,
seu pai trabalhador, e como era gostoso o abraço quentinho dos seus irmãos.
Passou a noite chorando, então levantou e ao
pegar o espelho percebeu que quando ele recebia a luz da lua, se tornava um
portal mágico, fechou os olhos e o atravessou.
As lembranças
pareciam reais, sua casa, o cheirinho de comida fresca, sua mãe a chamava para
o jantar, ela estava alegre, abraçou a todos, assim como na noite do incêndio.
Foram diversas noites com seus pais e as mesmas cenas.
Uma noite se arrumava
para jantar e entrou a governanta do orfanato, fechando as cortinas.
- Menina! Para onde
vai? Deite-se agora é uma ordem!
- Me arrumo, pois
jantarei com meus pais! Disse sorrindo.
- Seus pais? Você não
tem pais, eles morreram! Vá para a cama antes que eu perca a minha paciência! Apontando-lhe
um chicote.
Os olhos da menina se
encheram de lagrimas, abraçou o espelho.
-
Não quero deitar! Vou ir jantar com eles, estão vivos estão aqui!
- Silêncio! Vá agora,
tudo isso é bobagem, sua tola, isso é um mero espelho inútil assim como você! Dei-me
o espelho.
Foi assim, ela tomou o espelho das
pequenas mãos e caminhou em direção da porta.
Deitada na cama, ela observava
o movimento das cortinas, enquanto escultava o barulho dos passos no chão, o som
do fechar da porta, depois os pedaços de vidro no chão.
Correu e juntava suas
lagrimas e os cacos do espelho, como os cacos do seu coração, estava sozinha,
não tinha nada e ninguém, era um sonho, uma ilusão, hoje não jantaria com os
seus pais, muito menos com seus irmãos.
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