sexta-feira, 1 de agosto de 2014

O espelho da lua – Mônica Viana

Certamente aquela era uma noite muito fria, enquanto nevava as janelas do orfanato escola, batiam junto ao vento, em uma delas estava uma menina, de cabelos pretos e pele branca, demonstrava sua infinita tristeza, que escorria pelos seus olhos. Aos nove anos perdeu seus pais em um incêndio e deixaram de herança apenas um espelho.
Todos os dias ela caminhava até o jardim, e levava em suas mãos o espelho, sempre relembrando memórias de sua família, como sua mãe era carinhosa, doce e tinha um belo sorriso, seu pai trabalhador, e como era gostoso o abraço quentinho dos seus irmãos.
 Passou a noite chorando, então levantou e ao pegar o espelho percebeu que quando ele recebia a luz da lua, se tornava um portal mágico, fechou os olhos e o atravessou.
As lembranças pareciam reais, sua casa, o cheirinho de comida fresca, sua mãe a chamava para o jantar, ela estava alegre, abraçou a todos, assim como na noite do incêndio. Foram diversas noites com seus pais e as mesmas cenas.
Uma noite se arrumava para jantar e entrou a governanta do orfanato, fechando as cortinas.
- Menina! Para onde vai? Deite-se agora é uma ordem!
- Me arrumo, pois jantarei com meus pais! Disse sorrindo.
- Seus pais? Você não tem pais, eles morreram! Vá para a cama antes que eu perca a minha paciência! Apontando-lhe um chicote.
Os olhos da menina se encheram de lagrimas, abraçou o espelho.
­            - Não quero deitar! Vou ir jantar com eles, estão vivos estão aqui!
- Silêncio! Vá agora, tudo isso é bobagem, sua tola, isso é um mero espelho inútil assim como você! Dei-me o espelho.
            Foi assim, ela tomou o espelho das pequenas mãos e caminhou em direção da porta.
Deitada na cama, ela observava o movimento das cortinas, enquanto escultava o barulho dos passos no chão, o som do fechar da porta, depois os pedaços de vidro no chão.

Correu e juntava suas lagrimas e os cacos do espelho, como os cacos do seu coração, estava sozinha, não tinha nada e ninguém, era um sonho, uma ilusão, hoje não jantaria com os seus pais, muito menos com seus irmãos.

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