sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Do outro lado da janela - Amanda Rosendo Costa

Era o fim da tarde. Um fim de tarde de um complicado dia em que decidiu deixar o trabalho e foi até a cafeteria envidraçada sobre a praia.

Sentou-se só junto à vidraça e pediu um chá. Um simples chá preto, sem açúcar, numa xícara embrulhada pelas mãos frias, por causa do frio vento do norte que soprava lá fora e da cerração que se levantava.

Olhava o mar revolto que espelhava o céu nublado que avisava a chegada da tempestade. Nesse mar distinguiu um barco que chegava à praia.

Atracou e um homem só, bravo homem, amarrava o barco com uma desenvoltura e energia que gostava de ter.

E ali estava aquele homem na praia, livre, sem medo.

Aquele homem seria como as gaivotas que voavam sobre a esplanada, agora fechada, daquele café sobre a praia.

Era livre, vivia em contato com o mar, com a natureza. Estaria com certeza mais perto de Deus.

Não tinha nada a provar, seria feliz com uma vida dura mais simples.

Ficou feliz por saber que há gente que é livre, que não tem provas a dar, com corpo e alma para defrontar o violento mar, enquanto a si, de corpo doente e cansado, tudo exigiam. Uma imagem, uma postura, uma impossibilidade de amar e de apreciar as coisas simples da vida.

Sentiu inveja, uma inveja saudável daquele homem que parecia feliz, que disfrutava de uma vida simples sem pretensões, sem imagens e com amor.

Sentiu-se só, de alma vazia.


Por isso chorava.

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