sexta-feira, 1 de agosto de 2014

AMIGO DE INFÂNCIA - Paloma de Alcântara Pimentel

Não me lembro muito bem de todos os momentos, mas me lembro o suficiente para saber que foi algo muito importante para mim até hoje. Minha primeira amizade. Com um menino.
Tudo começou na escola, eu tinha uns 7 anos. Minha mãe me disse que no primeiro dia de aula eu não queria entrar na sala. Mas aos poucos fui me acostumando, fui me soltando e descobrindo alegrias de se ir a escola. Brincar, conversar e fazer amigos. Tinha muitas crianças, de todos os jeitos, negras, brancas, altas, magras e algumas, especificamente da mesma sala que eu estudava, fui tendo mais contato.
Me lembro que todos os dias, na hora do lanche, sentava perto dele, Guilherme e sempre compartilhávamos nosso lanches. Não éramos da mesma sala, mas aos poucos fui prestando mais atenção nele. Pode até ser engraçado, porque éramos apenas crianças, mas, trocamos olhares diversas vezes, até que um dia, fui brincar no único balanço vazio que tinha e ele também, mas ele chegou primeiro. Foi ai que pude reparar mais em Guilherme, era branco, dos olhos pretos, cabelos escuros e algumas sardas no rosto. Como ia dizendo, Guilherme chegou primeiro no balanço, mas com uma atitude cavalheira de um menino de 8 anos de idade, ele me deixou brincar primeiro e também brincou comigo. A partir desse momento, começa uma amizade.
Depois desse dia, passamos a brincar sempre, todos os dias. Lembro que sentia um aperto no peito quando era hora de ir para casa e ter que dar tchau para Guilherme, mas o pior era quando ele faltava, por mais que tivesse outras amizades, sentia-me sozinha.
No meu aniversários de 9 anos, meus pais fizeram uma festa para mim na escola, como todos os meus amigos, inclusive Guilherme, brincamos, dançamos, rimos e nossa união estava cada vez mais forte. Na hora de eu receber os presentes, todos me deram presentes especiais e também Guilherme, que me deu um conjunto de cozinha para brincar, tinha adorado.
Depois do meu aniversário, nossas mães ficaram muito amigas, então minha mãe foi convidada para passar a tarde na casa da Sueli, mãe do Guilherme e eu fui também. A casa dele era espaçosa e brincamos a tarde toda, enquanto nossas mães conversavam sobre a gravidez de Sueli.
Minhas visitas com minha mãe à casa do Guilherme ficaram cada vez mais freqüentes e nossos laços de  amizade se fortaleciam também.
Sueli ganhou bebê, depois de um tempo fomos visitá-la. Eu e Guilherme queríamos brincar e minha mãe pedia silencio, então decidimos ir para o quintal com sua prima. Fomos brincar de esconde-esconde e era vez da prima dele nos encontrar. Nos escondemos muito bem, tanto que passou algum tempo e ela não nos achou e nesse tempo, tivemos que nos abraçar e nos espremer para entrar no esconderijo, e por um instante rápido e involuntários, nossas bocas se encostaram. Foi um susto para ambos e decidimos sair dali.
No dia seguinte na escola, foi um dia normal e a pura inocência infantil nos fez esquecer o que aconteceu.
Depois de alguns meses, Guilherme me disse que ia se mudar, não gostei nem um pouco dessa noticia e não queria acreditar nisso, mas a partir desse momento, passei a brincar mais com ele e aproveitar muito nossos últimos momentos.
Chegou o dia da despedida, nos abraçamos muito forte e Guilherme prometeu que voltaria para me visitar. Foi minha primeira amizade verdadeira e minha primeira despedida, não sabia como lidar com isso. Fiquei chateada e com saudade dele por muitos dias. Não havia mais contato, por telefone ou qualquer outro meio.
Isso faz tanto tempo, mas até hoje, sempre que passo pela casa onde Guilherme morava, me lembro dessa historia e dos nossos momentos. Pessoas novas moram ali, mas queria que fosse Guilherme, hoje continuo tendo contatos com amigos daquela época, vejo pessoas que convivi naquela época, mas queria que fosse Guilherme.
Infelizmente, hoje só me resta fotos e lembranças.

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