Num
dia chuvoso quando voltava de um jantar de negócios de meu pai, vi pela janela
do carro quando quase adormecido, algo passar rapidamente.Parado olhando,
pensando no que poderia ter sido, fui acordado de meu devaneio quando do banco da
frente se ouvia uma discussão. Sem entender desviei o olhar e no instante
seguinte via-se um clarão.
Acordei
num hospital com todos me olhando, os médicos, meus pais, podia ouvir as vozes
doce de meus irmãos vindo de fora do quarto. Sem saber ao certo o que
aconteceu, vejo o rosto de mamãe numa expressão dolorosa.
Nada
fazia sentido, arranhões em meu corpo e machucados presente em meus pais, numa
pontada na cabeça onde havia um curativo, levei a mão até lá e então tudo me
pareceu claro.Naquela noite quando voltávamos para casa, um caminhão
desgovernado partira em nossa direção onde com a discussão resultou na
distração e houve um choque entre os automóveis. Felizmente todos estavam bem,
no meu caso não existia estar bem ou mal, na situação em que me encontrava
respirando era o termo certo.
Ainda
no hospital, quando mamãe me deixara sozinho no quarto pra tomar um café,
resolvi ser um pouco rebelde e dar uma volta no corredor. Esse era o único
jeito de um garoto magro, careca e com um cateter se sentir fazendo algo
ilegal, já que minhas forças para correr ou fazer arte fora tomada por uma
doença cancerígena que está espalhada em meu corpo.
Ao
caminhar lentamente, olhando para o chão meio distraído ouvi uma voz feminina
vindo de uma das portas. Era uma voz suave, a porta estava entre aberta, e eu,
sendo uma pessoa não muito curiosa resolvi espiar.
Ela
estava se olhando no espelho, dizendo coisas que garotas dizem, quando querem
ser alto animar, mais não houve sucesso. Por fim pude ver seu rosto, e
acredite, ela era incrivelmente linda.Fiquei olhando por mais alguns minutos,
ela tinha um cabelo louro e comprido, era pálida com olhos verdes que brilhavam
quando ela sorria.Quando me preparava para sair dali, meus dotes desastrados
resolveram me visitar e sem querer acabei provocando um barulho e empurrando a
porta.
Seus
olhos se fixaram em mim e inacreditavelmente ela me convidou para entrar, no
começo eu tímido falando pouco, apenas respondia suas perguntas, mas depois
parecia que nos conhecíamos à anos.
Naquele
dia tive de voltar a meu quarto antes que mamãe sentisse minha falta, mas a
prometi que voltaria para vê-la. Não sabia qual era seu problema, na verdade,
não falávamos muito no que nos levara a estar ali.
Nos
dias seguintes em todas as tardes quando mamãe saia, eu, e a garota dos olhos
verdes nos encontrávamos. Já que tinha se tornado uma rotina, quando por fim,
percebi que algo estava diferente.
Quando
certa vez entrei no quarto dela, a peguei chorando, não me disse qual fora o
motivo, apenas me deu um forte abraço. Quando se estabilizou ela chego perto,
mais perto do que era permitido e então um beijo aconteceu. Eram dois
apaixonados, eu e ela, sorrisos bobos e olhares fixos.
Tive
a ideia de lhe dar flores, uma enfermeira me ajudara a conseguir uma de
plástico, já que eu era alérgico “ao mundo”. Ela adorou, e me agradeceu dizendo
o quanto era bonita.
Acordei
tarde o que era estranho já que sempre acordava no mesmo horário, sem ligar
muito para isso, me levantei e fui até o quarto da garota dos olhos verdes, e
quando a porta se abriu o que restara era apenas um espaço vazio.
Ouvi
alguém gritar meu nome e ao me virar vi mamãe correndo chorando junto a meu
pai. Eles me abraçaram, e ficaram agradecendo por eu estar de volta. Tudo ficou
mais confuso, e foi então que soube.Quando houve o acidente o caminhão bateu na
parte traseira onde eu estava, fui socorrido e fiquei em coma por dez
meses.Tudo não passara de um sonho, os olhos verdes não eram reais, nada do que
passei com ela fora real.
Tiveram
que me dopar pelo meu estado nervoso, no dia seguinte tive uma recaída e não
resisti.
Eternas
saudades de Jasmim..